25 de maio de 2012

A REALIDADE LINGUÍSTICA DA CRIANÇA


CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1997


Uma criança de 7 anos que entra na escola para se alfabetizar já é capaz de entender e falar a língua portuguesa com desembaraço e precisão, nas mais diversas circunstâncias da vida.

Essa criança aprendeu falar e entende o que lhe falam, revelando um processo de aquisição  da linguagem que teve grande desenvolvimento a partir, do seu primeiro dia de vida.

A criança é qualquer criança normal de qualquer parte do mundo.

É importante lembrar que essa criança  aprendeu a falar e  entender o que lhe dizem. A escola não pode trata-la  como um ser falido – se sobreviveu  até agora é porque tem condições de aprender e se desenvolver. Qualquer criança que ingressa na escola aprendeu a falar e a entender a língua sem necessidade de treinamento especifico. Ela foi exposta ao mundo linguístico que a rodeia e nele foi ela própria vai traçando caminhos, criando o que lhe era permitido fazer com a linguagem.

Quando se diz que a criança já é um falante nativo de uma língua, significa que ela dispõe de um vocabulário e de regras gramaticais.  Todo falante nativo usa sua língua conforme as regras próprias de seu dialeto, espelho da comunidade linguística  a que está  ligado.

Uma criança que entra para escola pela primeira vez aos  7 anos já trilhou  um longo caminho linguístico, já provou no dia-a-dia um conhecimento  e uma habilidade linguística muito desenvolvido. È preciso salientar ainda que aos 7 anos uma criança pode ter mostrado sua capacidade intelectual de aprender e fazer também outras coisas, não relacionadas à linguagem.

A criança pode levar um choque, por mais que os adultos digam  que a escola é isso ou aquilo. Se ela for pobre , vier de uma comunidade que fala um dialeto que sofre discriminação por parte dos habitantes do lugar onde se situa a escola. A escola lhe dirá que tem problemas de discriminação auditiva porque troca letras, não aprende a forma correta de escrever as palavras, concluindo, por fim, que é preciso começar tudo de novo com essa criança. A partir dos resultados negativos das avaliações que, para a criança, sempre acontecem nos momentos errados, mas que a professora tem de exercitar porque o calendário escolar, sintonizado com  o relógio do tempo, assim obriga a agir, a criança é finalmente considerada portadora de uma doença educacional chamada carência, e dessa forma é submetida a métodos especiais. As crianças sentem que não sabem reagir linguisticamente a isso. Quando crescem e aprendem, será tarde demais para voltar atrás e dizer tudo o que deviam.

A escola não só interpreta erradamente a realidade das crianças, como também não se preocupada com o que estas pensam dela.

Uma criança que viu desde cedo sua casa cheia de livros, jornais, revistas, que ouviu histórias, que viu as pessoas gastando muito tempo lendo e escrevendo, que desde cede brincou com lápis, papel, borracha e tinta, quando entra na escola, encontra uma continuação de seu modo de vida e acha muito natural e lógico o que se faz na escola. Uma criança que nunca viu um livro em sua casa, nunca viu seus pais lendo jornal ou revista,  que muito raramente viu alguém escrevendo que  jamais teve lápis e papel para brincar, ao entrar na escola sabe encontrar essas coisas lá, mas sua atitude em relação a isso é bem diferente da criança citada anteriormente. E a maneira que a escola trata sua adaptação pode lhe trazer apreensões profundas, até mesmo desilusões.

A escola moderna se envolveu num emaranhado de teorias e métodos, mas se afastou, de fato , da realidade de seus alunos. O que fez a escola? Creio que nem ele própria sabe explicar. É preciso recuperar o fio da meada e começar a tecer de novo, não ao acaso, nem de maneira mais complicada, do que o próprio mundo, mas na justa medida das coisas. Por exemplo, ensinar português  e não fazer disso um campo de prova de teorias ou hipótese psicológicas, pedagógicas, ou seja lá o que for.


Mas o que é ensinar português para pessoas que  já sabem falar português?

SCIELO: NOTAS SOBRE LIVROS

NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES
Carla Tereza P. R. Dantas
LAEL/PUC-SP. E-mail: carla@dantas.net


“O texto na alfabetização: coesão e coerência” é composto de quatro capítulos e oferece ao pesquisador informações que lhe permite renovar e ampliar o quadro teórico das diferentes atividades de trabalho com o texto assim como construir novas orientações para a tarefa de produção textual escolar dentro de um contexto sócio-histórico.
No primeiro capitulo “ Noções básicas sobre Linguísticas, fala e escrita” tem-se a oportunidade de verificar a importância da Linguística Textual  na alfabetização, pois seu conhecimento pode ser  útil na sala de aula ao explicar a questão da interação professor/aluno e esclarecer questões a respeito da própria estrutura da língua. Além disso, a leitura é enfatizada com ponto essencial na produção de textos, pois é através dela que o aluno vai adquirir experiências cm a modalidade escrita, a partir da qual poderá fazer reflexões, assim com faz em relação à sua própria fala.
Carla Tereza P. R. Dantas

ANÁLISE DOS “ERROS”




CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1997

Os alunos ao produzirem textos espontâneos aplicam nesta tarefa um trabalho de reflexão muito grande e se apegam a regras que revalam usos possíveis do sistema de escrita. Nesse sentido um erro pode apontar o processo de construção do conhecimento, favorável ao entendimento e não a punição/reprovação.

Um aluno pode escrever élalevaotou – ela levantou, que é um modo de escrever não-ortográfico. Quando assim o faz está elaborando hipóteses sobre o sistema de escrita e mobiliza para isso possíveis regras ortográficas já conhecidas e ainda não assimiladas.  ( fazer link com a fase de assimilação do Piaget).

Quando escreve cazarão – casaram,  resvala que sabe que em português se escrevem palavras terminadas em am cuja a pronúncia é ão, então passa achar que ão pode também representar am. Só que ainda não aprendeu que esse relacionamento só ocorre em um sentindo -  am para sílaba átonas e ão para sílabas tônicas, e não em ambos.

Ao escrever caza, é justificável pelo fato de haver formas ortográficas onde o s representa o som do z. O aluno optando pelo uso da letra Z fez uma escolha errada, mas perfeitamente de acordo co as possibilidades de uso do sistema de escrita.

É importante que erros como esses apontados aqui  sejam problematizados pela equipe de linguagem  da escola, pois poderão elaborar atividades que ajudem os discentes a compreenderem  as convenções da língua padrão. Fazer levantamento das dificuldades  através de produções espontâneas, assim a criança assume a capacidade de transcrever seus pensamentos para forma escrita, o que não é tarefa simples.

Erros comuns:

Transcrição fonética: Essa categoria de erros é muito comum, pois os aprendizes transcrevem a palavra do jeito que falam. Escrevem   dici para disse, tudu para tudo, parocura para procurar, sou para sol. O fato é que ao falar  uma letra assume o som de outra, e em outras situações os sons das letras são muito parecidos. Aqui vale o docente ressaltar o som de cada letra individualmente, enfatizando a pronúncia correta de cada uma, e posteriormente apontar  as inversões de som e letra.

Uso indevido de letras: Caracteriza pelo fato do aluno escolher uma letra possível para representar o som de uma palavra, quando a ortografia usa outra. O som do s pode ser representado por Z, SS e Ç.

Hipercorreção: È muito comum quando o aluno já conhece a forma ortográfica de determinadas palavras e sabe que a pronúncia é diferente. Passa a generalizar esta foram de escrever, como por exemplo, muitas palavras terminadas em E são pronunciadas com o som do i, como lapes em vez de lápis.

Segmentação: Quando a criança começa a escrever, verifica-se que costuma juntar todas as palavras. Essa juntura reflete os critérios que ela usa na fala, afinal na fala não existe separação de palavras, falamos tudo junto e seguido sem pausas, a não ser quando marcada pela entonação do falante. Eucazecoéla – eu casei com ela, mimatou – me matou.

Morfologias diferentes: Alguns erros acontecem porque, na variedade dialetal que se usa certas palavras têm características próprias que dificultam o conhecimento. Adepois – depois, pacia – passear, ta – está.

Forma estranha de traçar a letra: A escrita cursiva apresenta grandes dificuldade não só para quem escreva com para quem lê.

Uso indevido de letras maiúsculas e minúsculas: Aprendemos que devemos escrever os nomes próprios começando em letra maiúsculas, muitas vezes o aluno passa escrever os pronomes pessoais também em maiúsculo: EU.

Acentos gráficos: Geralmente os acentos não são ensinados no inicio da alfabetização, portanto esse sinais estão em grande parte ausentes dos primeiros textos espontâneos.

FONOLOGIA NA ESCOLA


CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione, 1997 

A fonética preocupa-se com a descrição dos sons da fala e a fonologia com  o valor funcional que os sons têm na língua.
O ensino da fonologia nas escolas precisa ser programado, pois é um saber gradativo. Há algumas técnicas fonológicas que podem ser  de grande interesse para alfabetizadoras, como a noção de oposição e de variação de sistemas.

Um som pode ter  valores linguísticos diferentes ao assumir na palavra posições distintas. Por exemplo, se substituirmos  o P de pato por um B teremos um novo significado e uma nova palavra,  se eu disser KADEIRA para cadeira não altera o  significado. Repare nos exemplo:  Observer a palavra DEI  trocando o EI por E  produz uma palavra nova D. Ao trocar um som por outro estamos fazendo o que se chama  de TESTE DE COMUTAÇÃO. Essa é uma maneira de descobrir se um som tem valor distintivo de palavras ou não.

Os testes de comutação são reveladores de funções linguísticas e de valores fonológicos, isso se dá porque a linguagem humana é montada essencialmente com unidades chamadas de SIGNOS. Um signo linguístico é a união do SIGNIFICADO com o SIGNIFICANTE , ou seja, da ideia com o sons da fala. A palavra CASA  tem um significado – moradia, e um significante KAZA. A ideia da coisa material ou não é verbalizada.

Nesse sentido os linguistas apontam que a linguagem se articula em dois eixos: sucessão e ocorrências:

SUCESSÃO – SINTAGMÁTICO – O SIGNIFICADO É REPRESENTADO POR SONS

OCORRÊNCIAS – PARADGMÁTICO – O SIGNIFICADO É REPRESENTADO POR SONS POSSÍVEIS

O teste de comutação joga com esses eixos, para descobrir, através da montagem de signos linguísticos, quais sons distinguem as palavras ou não.

Os sons que distinguem as palavras são chamados de FONEMAS. Quando dois sons comutados não distinguem palavras, os dois estão em variação e representam um  único fonema, por exemplo, SELU – SELO, ZELU – ZELO, KASA-CASA, ASFAUTU-ASFALTO
Sabendo que no português há  palavras que uma letra pode alterar todo o significado do signo. E fonemas que na fala tem sons muito próximos.  É  importante que o docente alfabetizador saiba que nem todo “erro “ ortográfico é originário da falta de habilidade do aprendiz, é preciso levar em conta que falamos  de um jeito e escrevemos de outro, e essa descoberta pode demorar certo tempo, por isso as escolas pública são organizadas em ciclos, o primeiro ciclo que são 3 anos, é totalmente voltado para alfabetização gradual, no  final do 3º ano espera-se que o discente já tenha desenvolvido algumas capacidades ortográficas

15 de maio de 2012

PALAVRAS GERADORAS



http://www.paulofreire.org/




Paulo Freire com muita perspicácia percebeu que quanto mais cotidiana e usual for uma palavra mais facilmente esse será apreendida na modalidade escrita da linguagem. Foi na educação de jovens e adultos que tal pensamento revolucionários causou os maiores impacto.

Entretanto as ideias de Paulo Freire foram e são amplas demais para limitar-se a uma modalidade de educação. A alfabetização de crianças e jovens, tamém podem e têm muito a aprender com as palavras geradoras de Paulo Freire.

Quantos cadernos e livros didáticos encontraremos com atividades e explicações da língua escrita com textos e contextos totalmente dissonantes da realidade linguísticas das crianças?


Não podemos nos esquecer das formações silábicas clássicas como
D+A – D+O = DADO
SERÁ QUE A CRIANÇA CONHEÇE UM DADO?


Palavras desconectadas do sentido de mundo não são muito eficientes para os primeiros passos da alfabetização.

Porém durante o avançar da trajetória escolar, é preciso e necessário que o educador aponte novas palavras e inclusive abuse de variações e diferenças da e na escrita, para que assim os aprendizes percebam na prática a forma correta das grafias.

Sendo assim, o educador deve se desligar do léxico cotidiano? E apresentar palavras descoladas da realidade de mundo das crianças? Fazendo isso estaria em oposição às palavras geradoras apontadas por Paulo Freire?

Cabe o professor mostrar que o mundo é local e também global. E que uma palavra deriva de outra.

Quantas palavras novas podemos formar com as mesmas silabas ou fonemas?

As palavras geradoras de Paulo Freire são mais do que palavras escritas que derivam umas das outras, são palavras que descrevem o mundo.

O que coloca a prática docente como um trabalho essencialmente conflitante, pois esta no lugar de mostrar o mundo e os sistemas que o estruturam, através de palavras que podem libertar ou aprisionar.

Escrever aquilo o que liberta. O que conscientiza. E oferece alternativas ao mundo de desigualdades.

















Alfabetização e ortográfia

Kelly Amaral de Freitas



NOTA: Essa postagem  foi produzida  a partir das leituras de Carlos Cagliari e o Caderno de Alfabetização do Ceale Nº2.
Quando a criança está no inicio do processo de alfabetização é muito comum que alguns "erros" e dúvidas sobre com qual letra escrever determinadas palavras.
Será com S, com dois SS, com C ou Ç, ou será Z?
Na verdade o que acontece é que a crianças recém-iniciadas na cultura escrita, não apresentam ainda um repertório diversificado e amplo de palavras. Sua memória visual ainda não está "recheada" de diversidade léxica.
O que nos preocupa nessa fase da vida estudantil é o que alguns educadores fazem com esses "erros". Pois há muitas crianças rotuladas em escolas como portadoras de dificuldade de aprendizagem da escrita, mesmos sendo ainda muito pequenas.

Nesse momento é imprescindível que o docente recorra a ortografia, mas não para normatizar as escritas e encher a cabeça das crianças com regras cultas.
 É preciso perceber na gramática padrão que nem toda confusão ou dificuldade de escrita encontra-se regulamenta na norma.

Quem é que já leu na gramática alguma regra sobre quando usar Z ou S, C ou Ç, D ou T...

Essas letras apresentam sonoridades similares, a criança fala a palavra e escreve do jeito que pensar.
Cosinha invés de cozinha, tetergente invés de detergente. ,

Nesse sentido apontamos para um detalhe que todo educador precisa ter esclarecido, a fala influência na escrita, principalmente nos primeiros anos da alfabetização. Logo, é preciso que seja feito uma identificação de palavras chaves ou palavras geradoras ( ver postagem sobre palavras geradoras de Paulo Freire) que possam causar confusão cognitiva nas crianças. Atividades como ditados, leituras, escritas, completar com letras faltosas, são de grande proveito. Montar portfólio, caderno da turma, agenda de trabalho, escrever cartas, é importante para que os aprendizes se habituem a escrever bastante. Variando e aumentando o repertório de palavras, para que no fim de tanto escrever e de tantos ler, possam "de-cor"(ar) visualmente as palavras e suas respectivas grafias corretas.
       Dessa forma mais do que apresentar uma gramática prescritiva o educador estará despertando escritores e leitores, aptos a estranhar "escorregões" ortográficos. Além disso, é muito produtivo que as crianças sejam leitores de si mesmas: ESCREVER - RELER - LER EM VOZ ALTA - PERCEBER O ERRO - TRANSCREVER. Esses exercícios pode ser um hábito, não apenas da cultura escolar, mais da própria vida.