Marta Virgínea Machado
O alfabetizador é um
profissional da língua, por isso necessita conhecer a estrutura e o
funcionamento da língua. Assim o professor alfabetizador embasando os conteúdos
teórico-linguístico, terá capacidade de trabalhar mais facilmente a valorização
do código oral como mediação necessária para a aquisição da escrita.
Observe-se que
nenhuma língua consegue manter-se rigorosamente a mesma, numa grande extensão
territorial, ela evolui com o tempo, e vaia adquirindo peculiaridades próprias
em função do seu uso por comunidades especifica. Sendo assim todas as
variedades, do ponto estrutural linguística, são perfeitas e completas em si.
Vejamos a língua Portuguesa no Brasil, apresenta uma grande gama de variações,
exemplo: pessoas de classe alta não falam como as de classe baixa, os dialetos
rurais diferenciam-se dos dialetos em áreas urbanas.
Essas considerações apresentadas despertam a
importância dos conteúdos linguísticos na formação do professor alfabetizador,
para que este não adote critérios como o que é “certo” e o “errado”, para os
mais variados e diferentes dialetos apresentados por seus alfabetizados.
Segundo CAGLIARI (1991, p.82), o “certo’ e o ‘errado’ são conceitos pouco
honestos que a sociedade usa para marca os indivíduos e classes sociais pelo modo
de falar (...). Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca
as diferenças linguísticas, com marcas de prestígios e estigma.”
A alfabetização em seu processo de aprendizagens de
línguas, tem por finalidade munir o alfabetizador com mais um instrumento de
comunicação verbal, a escrita, parece-nos improcedente um professor
alfabetizador não ter conhecimentos das variações linguísticas. Neste caso “
como pode-se ensinar uma língua sem conhecer sua estrutura e o seu
funcionamento, bem como os mecanismos que permitem sua aquisição” (ROULET apud
POERCH, 1990, p.10). É importante considerar que a linguística não tem
pretensão como salvação a alfabetização, mas um professor que obtêm esta
formação, terá mais facilidade para aperfeiçoar o seu trabalho.
A língua como todos os produtos culturais humanos, constitui
um sistema. Em se tratando de alfabetização, é fundamental que o professor
alfabetizador conheça que a mensagem linguística possui diversos tipos de
estruturação e saiba como eles se inter- relacionam: “nível figurativo
(fonético-fonológico), nível semiológico (sintático-semântico) e nível
comunicativo (textual- transfrasal)”. (POERCH, 1990, p.18).
A uma distinção a ser feita entre os tipos de
estruturação e sua inter-relação. Vejamos fonético-fonológico:
a fonética é o estudo do som da fala, que procura analisar e descrever a fala
das pessoas e como ela ocorre-nos mais variadas situações da vida. Já a
fonologia preocupa-se com os sons da língua, os que têm a capacidade de alterar
significado de uma sequencia sonora.
O nível sintático-semântico caracteriza-se de
uma unidade de expressão associar-se a uma unidade de conteúdo, ou seja nessa
estrutura analisam os processos de denotação, conotação, e de sinonímia, e de antonímia.
Os aspectos sintáticos mais importantes são os que explicam o uso da construção
da frase, constituindo em uma estrutura frasal, que relaciona com a estrutura
verbal, e esta relaciona com os tipos de dependência que os elementos mantem entre
si e com o todo, e por fim os que se relacional com os processos de
estruturação.
No
nível textual, analisam-se os constituintes da mensagem, sua articulação, seus
significados, ou seja em tudo que a linguística pode utilizar em termos de som,
significado para analisar um texto.
Quando
o professor conhece essas estruturas e saiba aplica-las a alfabetização, ele
tem melhores condições de ver as dificuldades de seus alunos. é importante
também que o docente leve em conta as variações dialetais que seus alunos
apresentam como: históricas, geográficas, sociais, estilísticas, precisando assim conhecer diferentes
variedades linguísticas de uma classe, onde estes com certeza são procedentes
de regiões diversas. Com os conhecimentos destas variações, o professor
resultara que o certo e o errado têm somente em relação a sua estrutura. Com
relação ao seu uso pelas comunidades não existe o “certo” e o “errado”,
linguisticamente, mas apenas o diferente.
De acordo com CAGLIARI (1990, p82-83), o
respeito que as escolas deve ter aos dialetos de seus alunos é o seguinte “ a
escola deve respeitar os dialetos, entende-los e ate mesmo ensinar como essas
variedades funcionam, comparando-as entre si, ensinando como usar as variedades
linguísticas, sobretudo o dialeto padrão (...). A escola desta forma não só
ensina o português como desempenha um papel inprecedivel de promover
socialmente os menos favorecidos pala sociedade”. Com isso os alunos com os
conhecimentos dessas variações linguísticas estarão contribuindo para que eles
compreendam o seu mundo e o dos outros, mas para isso é necessário que o
professor ensine a verdade linguística aos seus discentes. E certamente a
sociedade mudara seu modo de ver as diferenças linguísticas da comunidade em
que vive.
As
crianças mostram uma habilidade surpreendente para falar com fluência a língua
usada em sua comunidade, por isso que o processo de aprendizagem deve-se fundar
na linguagem que as crianças dominam, e nascer com fortes marcas de oralidades,
de acordo com LIMA ( 2000, p.64) “não devemos mitificar o processo
aprendizagem, nem transforma-lo em
penoso ritual de alfabetização nas primeiras series. Ela deve vir ao seu tempo,
juntamente com o conjunto de atividades interessantes e necessários para
crianças nesse período”.
A
aprendizagem não se constitui apenas das ações pedagógicas, pois a partir do
momento que p ser humano nasce, ele começa a aprender espontaneamente, em
ambientes sociais diversificados. Sendo que é necessário dar mais valor a
linguagem que a criança constrói antes da fase escolar, pois a vida de uma
língua esta na fala. Com isso infelizmente muito alfabetizadores, ignoram as
variantes dialetais, por estarem preocupados com as normas estabelecidas pela
sociedade de pronuncias “correta” das palavras, e esquecem do grande papel da
oralidade. Segundo FERREIRO, (1985, p.64). Estamos tão acostumados a considerar
a aprendizagem da leitura e da escrita, como um processo de aprendizagem
escolar, que se torna difícil de reconhecermos que o desenvolvimento da leitura
e da escrita começa muito antes da escolarização. Os educadores são os que têm
mais dificuldades em aceitar isto”
É
preciso ter consciência de que a escrita deve funcionar com um sistema de
representação da linguagem oral, porque permite o desenvolvimento da confiança
na oralidade, para o aluno. Já os conteúdos apresentados pela a escola, deve-se
ser organizados de acordo com o nível da criança e oriundos do meio em que vive
das suas experiências, criando assim maior interesse de aprendizado. O discurso,
na escola, utilizado pela maioria dos alfabetizadores, estabelece significados ameaçadores e irônicos aos seus alfabetizados,
reprimindo, assim a curiosidade infantil, a criança passa a ter medo de se
comunicar-se, por um lado para não falar
“errado”, por um outro, porque recebe ordens imperativas do professor, que
precisa manter a disciplina na sala.
Portanto,
para que o professor alfabetizador venha fazer parte deste sistema de repreensão,
é necessário que ele, além de munir os embasamentos linguísticos, tenha como
lema os termos cunhados por Paulo Freire
em seu livro Pedagogia do Oprimido (1987) “... a alfabetização deve cuidar de
libertar o homem de suas alienações, a que a consciência dominadora o submete,
não utilizara ideia de ‘educação para domesticação’, mas uma educação ‘para
libertação’...”
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