5 de junho de 2012

A importância da Linguística na formação do professor alfabetizador


Marta Virgínea Machado



               O alfabetizador é um profissional da língua, por isso necessita conhecer a estrutura e o funcionamento da língua. Assim o professor alfabetizador embasando os conteúdos teórico-linguístico, terá capacidade de trabalhar mais facilmente a valorização do código oral como mediação necessária para a aquisição da escrita.

                 Observe-se que nenhuma língua consegue manter-se rigorosamente a mesma, numa grande extensão territorial, ela evolui com o tempo, e vaia adquirindo peculiaridades próprias em função do seu uso por comunidades especifica. Sendo assim todas as variedades, do ponto estrutural linguística, são perfeitas e completas em si. Vejamos a língua Portuguesa no Brasil, apresenta uma grande gama de variações, exemplo: pessoas de classe alta não falam como as de classe baixa, os dialetos rurais diferenciam-se dos dialetos em áreas urbanas.

                Essas considerações apresentadas despertam a importância dos conteúdos linguísticos na formação do professor alfabetizador, para que este não adote critérios como o que é “certo” e o “errado”, para os mais variados e diferentes dialetos apresentados por seus alfabetizados. Segundo CAGLIARI (1991, p.82), o “certo’ e o ‘errado’ são conceitos pouco honestos que a sociedade usa para marca os indivíduos e classes sociais pelo modo de falar (...). Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca as diferenças linguísticas, com marcas de prestígios e estigma.”

                A alfabetização em seu processo de aprendizagens de línguas, tem por finalidade munir o alfabetizador com mais um instrumento de comunicação verbal, a escrita, parece-nos improcedente um professor alfabetizador não ter conhecimentos das variações linguísticas. Neste caso “ como pode-se ensinar uma língua sem conhecer sua estrutura e o seu funcionamento, bem como os mecanismos que permitem sua aquisição” (ROULET apud POERCH, 1990, p.10). É importante considerar que a linguística não tem pretensão como salvação a alfabetização, mas um professor que obtêm esta formação, terá mais facilidade para aperfeiçoar o seu trabalho.

                A língua como todos os produtos culturais humanos, constitui um sistema. Em se tratando de alfabetização, é fundamental que o professor alfabetizador conheça que a mensagem linguística possui diversos tipos de estruturação e saiba como eles se inter- relacionam: “nível figurativo (fonético-fonológico), nível semiológico (sintático-semântico) e nível comunicativo (textual- transfrasal)”. (POERCH, 1990, p.18).

                A uma distinção a ser feita entre os tipos de estruturação e sua inter-relação. Vejamos fonético-fonológico: a fonética é o estudo do som da fala, que procura analisar e descrever a fala das pessoas e como ela ocorre-nos mais variadas situações da vida. Já a fonologia preocupa-se com os sons da língua, os que têm a capacidade de alterar significado de uma sequencia sonora.

 O nível sintático-semântico caracteriza-se de uma unidade de expressão associar-se a uma unidade de conteúdo, ou seja nessa estrutura analisam os processos de denotação, conotação, e de sinonímia, e de antonímia. Os aspectos sintáticos mais importantes são os que explicam o uso da construção da frase, constituindo em uma estrutura frasal, que relaciona com a estrutura verbal, e esta relaciona com os tipos de dependência que os elementos mantem entre si e com o todo, e por fim os que se relacional com os processos de estruturação.

No nível textual, analisam-se os constituintes da mensagem, sua articulação, seus significados, ou seja em tudo que a linguística pode utilizar em termos de som, significado para analisar um texto.

Quando o professor conhece essas estruturas e saiba aplica-las a alfabetização, ele tem melhores condições de ver as dificuldades de seus alunos. é importante também que o docente leve em conta as variações dialetais que seus alunos apresentam como: históricas, geográficas, sociais, estilísticas,  precisando assim conhecer diferentes variedades linguísticas de uma classe, onde estes com certeza são procedentes de regiões diversas. Com os conhecimentos destas variações, o professor resultara que o certo e o errado têm somente em relação a sua estrutura. Com relação ao seu uso pelas comunidades não existe o “certo” e o “errado”, linguisticamente, mas apenas o diferente.

 De acordo com CAGLIARI (1990, p82-83), o respeito que as escolas deve ter aos dialetos de seus alunos é o seguinte “ a escola deve respeitar os dialetos, entende-los e ate mesmo ensinar como essas variedades funcionam, comparando-as entre si, ensinando como usar as variedades linguísticas, sobretudo o dialeto padrão (...). A escola desta forma não só ensina o português como desempenha um papel inprecedivel de promover socialmente os menos favorecidos pala sociedade”. Com isso os alunos com os conhecimentos dessas variações linguísticas estarão contribuindo para que eles compreendam o seu mundo e o dos outros, mas para isso é necessário que o professor ensine a verdade linguística aos seus discentes. E certamente a sociedade mudara seu modo de ver as diferenças linguísticas da comunidade em que vive.

As crianças mostram uma habilidade surpreendente para falar com fluência a língua usada em sua comunidade, por isso que o processo de aprendizagem deve-se fundar na linguagem que as crianças dominam, e nascer com fortes marcas de oralidades, de acordo com LIMA ( 2000, p.64) “não devemos mitificar o processo aprendizagem, nem transforma-lo  em penoso ritual de alfabetização nas primeiras series. Ela deve vir ao seu tempo, juntamente com o conjunto de atividades interessantes e necessários para crianças nesse período”.

A aprendizagem não se constitui apenas das ações pedagógicas, pois a partir do momento que p ser humano nasce, ele começa a aprender espontaneamente, em ambientes sociais diversificados. Sendo que é necessário dar mais valor a linguagem que a criança constrói antes da fase escolar, pois a vida de uma língua esta na fala. Com isso infelizmente muito alfabetizadores, ignoram as variantes dialetais, por estarem preocupados com as normas estabelecidas pela sociedade de pronuncias “correta” das palavras, e esquecem do grande papel da oralidade. Segundo FERREIRO, (1985, p.64). Estamos tão acostumados a considerar a aprendizagem da leitura e da escrita, como um processo de aprendizagem escolar, que se torna difícil de reconhecermos que o desenvolvimento da leitura e da escrita começa muito antes da escolarização. Os educadores são os que têm mais  dificuldades em aceitar isto”

É preciso ter consciência de que a escrita deve funcionar com um sistema de representação da linguagem oral, porque permite o desenvolvimento da confiança na oralidade, para o aluno. Já os conteúdos apresentados pela a escola, deve-se ser organizados de acordo com o nível da criança e oriundos do meio em que vive das suas experiências, criando assim maior interesse de aprendizado. O discurso, na escola, utilizado pela maioria dos alfabetizadores, estabelece  significados ameaçadores e irônicos aos seus alfabetizados, reprimindo, assim a curiosidade infantil, a criança passa a ter medo de se comunicar-se, por um lado  para não falar “errado”, por um outro, porque recebe ordens imperativas do professor, que precisa manter a disciplina na sala.

Portanto, para que o professor alfabetizador venha fazer parte deste sistema de repreensão, é necessário que ele, além de munir os embasamentos linguísticos, tenha como lema os termos cunhados  por Paulo Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido (1987) “... a alfabetização deve cuidar de libertar o homem de suas alienações, a que a consciência dominadora o submete, não utilizara ideia de ‘educação para domesticação’, mas uma educação ‘para libertação’...”

PARA LER O ARTIGO NA ÍNTEGRA:

Um comentário:

  1. Sou estudante de Letras e gostei muito do site, em especial dessa postagem, me ajudou a esclarecer conceitos simples, mas que me faltava uma explicação mais simplificada e de fácil compreensão que só encontrei aqui. Muito Obrigado!! Parabéns...

    ResponderExcluir